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16/03/2022
Mais de 70% das amostras de fios e cabos elétricos no país estão irregulares
A luta para melhorar a qualidade dos fios e cabos de baixa tensão elétrica disponibilizados no mercado brasileiro é árdua e parece não ter fim. Nos últimos seis anos, a porcentagem de amostras de produtos testados pela Associação Brasileira de Qualidade dos Fios e Cabos Elétricos (Qualifio) e que foram avaliadas como em não conformidade com o selo de qualidade do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) se mantiveram constantes apesar de todo o trabalho da Qualifio e de demais órgãos para mudar a situação.

Se em 2016, 72% das amostras analisadas pela Qualifio estavam irregulares - e este número chegou a cair para 64%, em 2019 -, o monitoramento das amostras avaliadas em 2021 constatou que 71% das amostras de fios e cabos elétricos avaliadas estão em não conformidade com as normas vigentes no Brasil. De acordo com o secretário executivo da Qualifio, Mauricio Sant'Anna, a explicação para tal fato se deve ironicamente ao aumento da fiscalização. "Para tentar fugir desse controle mais rígido, fabricantes mal intencionados começam a produzir mais marcas com registro burlado", explica.

Esta quantidade de produtos em não conformidade avaliados pela Qualifio é corroborada pelos dados setoriais de faturamento do mercado de fios e cabos elétricos disponibilizados pelo Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel). Conforme estes dados, cerca de 30% dos produtos comercializados no mercado brasileiro, em 2020, são ilegais, o que equivale a R$ 2 bilhões do que a indústria faturou no período.

Além disso, os fios e cabos elétricos de baixa tensão em não conformidade produzidos no Brasil acarretam perdas consideráveis à geração de energia, ocasionando um imenso prejuízo econômico ao país. Em 2019, os fios e cabos elétricos de baixa qualidade foram responsáveis por 7% das perdas adicionais em relação ao consumo total de energia no país - aproximadamente 32.700 GWh - gerando um gasto no ano de R$ 9,2 bilhões. Levando-se em conta que, em média, os investimentos do setor de geração, são de 5% em relação ao consumo, percebe-se que o país não está conseguindo repor as perdas e, dessa forma, vem pagando um preço bem alto pela baixa qualidade de seus fios e cabos elétricos.

Problemas de ordem financeira não são os únicos que podem ser acarretados por fios e cabos elétricos de baixa tensão em não conformidade com o selo do Inmetro. Todos os anos, estes produtos presentes nas instalações elétricas de baixa tensão contribuem para acidentes como incêndios e choques elétricos, que não raramente geram vítimas fatais.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), Edson Martinho, informa que, no ano de 2020, foram registrados 583 incêndios por sobrecarga elétrica (muitos ocasionados por fios e cabos mal dimensionados), com 26 vítimas fatais. Já em relação aos choques elétricos, cujas causas são problemas no isolamento do cabo, Martinho destaca que foram contabilizados 1500 acidentes, com 690 mortes.

Martinho explica que a maioria dos problemas envolvendo condutores elétricos ocorre em instalações de baixa tensão. "Isto porque, além de os consumidores finais não estarem acostumados a comprar produtos qualificados e com selo de garantia de qualidade, um complicador é que alguns produtos são fraudados, ou seja, apresentam o selo falsificado do Inmetro, mesmo sem estar em conformidade", diz.

Para evitar acidentes e mortes, o diretor-executivo da Abracopel, recomenda que o consumidor sempre se atente para fios que sigam as normas técnicas, que apresentem o dimensionamento adequado e que sejam produtos de boa qualidade. Em caso de dúvida, Martinho sugere sempre pedir a ajuda de um profissional. "Melhores informações sobre a qualidade de fios e cabos elétricos e sobre produtos certificados também podem ser encontradas remotamente através do site da Qualifio", informa.

Por fim, Martinho recomenda ao consumidor sempre desconfiar de produtos muito baratos. "É importante frisar que os cabos são formados basicamente de PVC e cobre, que é uma commodity e tem o preço regido pela Bolsa de Metais de Londres, ou seja, o fornecedor de cabos não tem muito como controlar o preço de seu material. Se você encontrar um cabo muito mais barato que o outro, desconfie: ou tem menos cobre ou esse cobre é de baixa qualidade", afirma.

Com o intuito de que a quantidade de fios e cabos elétricos irregulares diminua no mercado brasileiro, não basta apenas buscar conscientizar o consumidor final, é preciso atuar em outros elos da cadeia, tais como na melhoria das condições de atuação dos órgãos de fiscalização e verificação. Nesse sentido, o Sindicel distribuiu ao Instituto de Pesos e Medidas (Ipem) - órgão delegado do Inmetro - de todos os estados do Brasil equipamentos para fazer testes de resistência nos materiais. "Além disso, capacitamos gratuitamente técnicos para operarem os equipamentos doados", declara o diretor do Sindicel, Ênio Rodrigues.

A atuação para limpar o mercado de produtos irregulares e de baixa qualidade também se dá junto a revendedores e fabricantes, em que são realizadas ações de apreensão de materiais ilegais, que culminam até em prisões. O diretor do Sindicel informa que em 2020, houve ações, realizadas por diversos órgãos, entre os quais Ipem e Inmetro e até pela polícia civil, em 222 lojas e 18 empresas, que resultaram na apreensão de 78 marcas e mais de 135 mil rolos e bobinas, em 26 estados do Brasil.

Crescimento do mercado de cabos subterrâneos

Os últimos leilões de transmissão promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) - em 2018, 2019 e 2020 - devem acrescentar ao Sistema Interligado Nacional (SIN) aproximadamente 150 km de circuitos de linhas de transmissão subterrâneas nas classes de tensões de 230 kV e 345 kV (corrente alternada), com instalação prevista para os próximos cinco a seis anos.

Segundo a coordenadora do Comitê de Estudos B1 - Cabos Isolados, do Cigré-Brasil, Nadia Helena Gama Ribeiro de Louredo, trata-se de algo inédito no país no tocante à implantação de sistemas de cabos isolados de potência nas classes de tensões citadas. "A previsão em questão propriamente excede o montante atual em operação no Brasil quanto à extensão de circuitos de sistemas de cabos em 230 kV e 345 kV", comenta.

Os cabos isolados de potência a serem instalados no Brasil possuem isolação em XLPE (polietileno reticulado), condutores em cobre ou alumínio, e blindagem metálica em cobre ou alumínio, sendo tecnologia largamente utilizada em âmbito internacional. No Brasil, conforme Nadia Helena, a maioria das linhas de transmissão subterrâneas nestas classes de tensão em operação refere-se a sistemas de cabos isolados com isolação em papel impregnado com óleo a baixa pressão (o chamado " oil fluid"). Mas isso se deve ao seu longo período de operação - a mais recente começou a operar há aproximadamente 30 anos e as outras há mais de 40 anos.

Nadia Helena esclarece que há muitos anos a tecnologia de cabo condutor "oil fluid" deixou de ser empregada em novos projetos no Brasil, assim como em outros países, uma vez que fatores diversos, como, por exemplo, ambientais, de custos de manutenção corretiva e o avanço mundial em outras tecnologias, como a isolação em XLPE, entre outras, a tornaram de certa forma ultrapassada. "Porém, na história dos cabos isolados de potência, este cabo ocupará um lugar de destaque devido a sua confiabilidade", afirma.

Após 40 anos atuando na área de projetos de linhas de transmissão subterrâneas em classes de tensão 88 kV / 138 kV, 230 kV e 345 kV, a coordenadora do Comitê de Estudos B1 - Cabos Isolados, do Cigre-Brasil, vislumbra um sensível crescimento na implantação de sistemas de cabos subterrâneos no Brasil. Não obstante, segundo ela, as linhas aéreas de transmissão continuarão a ser largamente implementadas de norte a sul do país. "As linhas de transmissão subterrâneas serão a alternativa mais viável em regiões urbanas ou regiões objeto de restrições ambientais", acredita.
 
Fonte: O Setor Elétrico

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