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13/11/2025
Fios ilegais viram bomba-relógio: 30% do cobre usado no Brasil tem origem ilícita e alimenta tragédias elétricas
O Brasil enfrenta uma crise silenciosa, porém letal, na segurança elétrica. Segundo o Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos (Sindicel), cerca de 30% dos fios de cobre em circulação no país têm origem ilícita, movimentando um mercado de R$ 2,4 bilhões por ano.

O impacto dessa fraude vai muito além das estatísticas econômicas, resultando em cabos de baixa qualidade, superaquecimentos e incêndios que colocam vidas em risco.

Dados da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel) apontam um crescimento alarmante nas ocorrências. Entre 2023 e 2024, os acidentes elétricos aumentaram 11,6%, chegando a 2.373 casos, com 759 mortes - alta de 12,6% em relação ao ano anterior. Apenas os incêndios residenciais saltaram de 963 para 1.205 no período.

Fraude nos cabos: o crime que começa na fábrica

Grande parte dos problemas nasce ainda na produção. Cabos "desbitolados", com menos cobre do que o exigido por norma, são mascarados com excesso de PVC, criando uma falsa sensação de segurança.

Esses cabos comprometem a condução elétrica, aquecem mais e podem iniciar incêndios", explica Enio Rodrigues, diretor executivo do Sindicel.
Para ele, a qualidade dos fios é diretamente proporcional à segurança das instalações. "A cada nova obra, seja residencial ou industrial, a inspeção deveria ser tratada como prioridade", alerta.

A Qualifio, entidade que monitora a qualidade de fios e cabos, reforça o alerta. "Há empresas lançando produtos que não atendem aos critérios mínimos de qualidade. Isso sobrecarrega sistemas e coloca vidas em risco", afirma Maurício Santana, diretor-executivo da instituição.

Alumínio disfarçado de cobre agrava riscos

Outra ameaça crescente vem da substituição irregular do cobre por alumínio revestido, material mais barato, porém menos eficiente. "O alumínio aquece mais e pode comprometer conexões, levando a temperaturas críticas", adverte Santana.

Segundo ele, embora o uso do alumínio seja permitido em situações específicas, o erro está na aplicação inadequada. "Construtoras instalam cabos de alumínio sem avaliar a demanda elétrica real das edificações, o que compromete a segurança e eleva o risco de acidentes."

Casos como o de uma consumidora que teve toda a instalação de sua casa feita com alumínio, mesmo com quatro aparelhos de ar-condicionado e forno elétrico, evidenciam a gravidade do problema. "Trocar o cobre por alumínio no meio da ligação é crime. Coloca uma família inteira em perigo", diz Santana.

Falhas de fiscalização e caminhos para mudar o cenário

A fragilidade da fiscalização agrava a situação. Segundo o diretor da Qualifio, o Inmetro enfrenta limitações estruturais e legais para ampliar a atuação. "As inspeções precisam ser agendadas com cinco dias de antecedência, o que permite que fabricantes irregulares se preparem para burlar auditorias."

Especialistas apontam que a solução depende de três eixos principais: fiscalização rigorosa, inspeção periódica e educação do consumidor.

Se o consumidor soubesse identificar cabos de qualidade, evitaria boa parte dos riscos", ressalta Santana.
As normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), como a NBR 5410 (baixa tensão) e a NBR 14039 (alta tensão), definem padrões claros de segurança, mas ainda são negligenciadas em nome de economia imediata.

Consciência e responsabilidade para frear tragédias

Para o diretor comercial da Reymaster Materiais Elétricos, Marco Stoppa, o combate à fraude exige união entre consumidores e profissionais do setor.

O Brasil enfrenta uma realidade dura, mas que pode ser revertida com conscientização e responsabilidade. As empresas sérias já fazem sua parte, oferecendo produtos certificados e de qualidade
Enquanto o mercado ilegal segue aquecido, o risco de tragédias cresce a cada novo cabo irregular instalado. O desafio é coletivo: transformar conhecimento e fiscalização em barreiras reais contra um perigo que, embora muitas vezes invisível, tem consequências devastadoras.

Por Giovana Gurgel
Graduanda em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Produz conteúdo para o portal BNews Natal e redes sociais.
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